11
de Janeiro
A decisão no dia anterior tinha
sido a de fazer um passeio que pudéssemos testar botas, roupa a vestir em cada
circunstância e entrar aos poucos no ritmo de caminhar alguns kilometros por
caminhos no parque. Para isso, o primeiro caminho a fazer seria um caminho
suave de poucos kilometros e com um percurso bastante suave, com um prémio
garantido, ver ao longe um glaciar e ver de perto uns quantos icebergs
provenientes desse mesmo glaciar.
Outra das razões para a escolha
era a de termos um dia tranquilo para ajudar adaptar e recuperar de algum
cansaço que os dias de viagem anteriores nos tinham deixado. Assim, lá começámos
o que seria a rotina habitual por estes dias:
1º
Sair da tenda, pôr água a aquecer para cafés,
chás e leites com chocolate.
2º
Colocar toda a maquilhagem tão necessária para
estes dias (ou seja: ir à casa de banho, lavar a cara e os dentes, e tentar
largar todos os kilinhos extra antes de deixar o parque de campismo).
3º
Encher bem o depósito com um bom pequeno almoço
(vá, não tínhamos um buffet de um hotel de 5 estrelas, mas tínhamos pão, doce,
queijo, marmelada e fruta!).
4º
Aquecer mais água enquanto se come o pequeno
almoço (porque não se sai sem ter um termos carregadinho com água quente!).
5º
Agarrar nas mochilas e fazermo-nos ao caminho.
Com sorrisos na cara lá fomos nós à nossa primeira caminhada. Início do caminho, uma maquete do lugar e passados uns metros, a primeira ponte suspensa. Cada vez mais interessante este caminho, até porque mais uns metros e...pelo meio das ramas os primeiros blocos de gelo já se deixam ver!
Atravessámos um caminho de
cascalho com água de ambos os lados (que mais parece um túnel de vento
desenhado pelos melhores engenheiros Alemães!) e damos a volta por uma pequena
península com um mirador na ponta,
perfeito para ver ao longe o glaciar Grey.
***
Esta voltinha serviu-nos a todos
para perceber um pouco como o clima e os próprios percursos influenciavam a
indumentária que vestíamos. No espaço de 2km passámos de estar com casacos e
gorros pelo frio inicial a estar encolhidos a lutar contra um vento cortante e
os salpicos de água que trazia a tirar camisolas e ficar quase de manga curta.
Por mais estranho que pudesse
parecer, era verdade (e confirmamo-lo mais tarde noutros caminhos), facilmente teríamos 3 ou 4 estações num só dia e o único remédio era estar preparados para
o que cada dia nos reservasse.
***
Um percurso fácil e gratificante
pelas vistas que possibilitava. Realmente tinha sido uma boa escolha para
começar o dia. Mas não podíamos dar o dia por terminado! Era cedo e ali na zona
ainda havia um caminho que nos estava a intrigar. Um caminho curto (se bem me
lembro não superava 1km de extensão) mas estava marcado como de dificuldade
média e conduzia a um mirador que dava vista sobre uma boa parte do parque.
Como a moral estava elevada,
havia que aproveitar, ainda por cima os objectivos do dia eram claros,
recuperar mas testar.
Não foram precisos mais de 15min
no caminho para perceber porque havia um mirador no final daquele caminho, nem
porque era um caminho de dificuldade média. O caminho estava cuidado, não havia
grandes obstáculos nem dificuldades no percurso, mas a linha que traçava era
simples: subir a encosta. Subir a serio: 700M de pura subida.
Como não há heróis (ou melhor:
há, mas criados pelo nosso imaginário) num dos patamares intermédios decidimos
dividir-nos, um grupo seguiu e o outro voltou para trás. Volto a referir, um
dos objectivos do dia era testar, não era rebentar! E para teste, aquela parte
do caminho somada ao caminho anterior, tinham servido perfeitamente.
O resto do caminho não tinha nada
que enganar, era “só” subir! E posso-vos dizer que a vista compensava o
esforço.
Talvez não acreditem, mas a
verdade é que as fotos não foram retocadas para que se vejam cores surreais. A
verdade é que se vêem mesmo os diferentes lagos e rios, cada um com a sua cor
ou a sua tonalidade. Não é obra do photoshop ou de algum filtro marado posto na
lente.
Descemos e juntámo-nos ao resto
da comitiva.
Sobrava-nos uma boa parte da
tarde mas mais importante, havia que desmistificar a dificuldade do caminho.
Sim, era duro, mas não era impossível. Sim, era possível e provável que viéssemos
a fazer algum caminho que fosse “deste estilo” mas havia que pensar que quando
o começámos já não estávamos frescos, que já tínhamos caminhado, que tínhamos
as mochilas mais carregadas do que precisávamos e que não há que ter pressa, há
que entrar no ritmo e que o ritmo de cada um é diferente. Sem nunca esquecer
que afinal de contas, se o caminho estava marcado com determinada dificuldade,
por alguma razão era!
Mas como vos dizia, ainda tínhamos uma boa parte da tarde nas nossas mãos e a última coisa que queríamos
era que as tropas ficassem desmoralizadas. Alerta e conscientes sim, assustadas
não!
Por isso rumámos a outra zona,
para visitar uma queda de água, uma zona muito ventosa e agreste, mas de fácil
acesso e que só podia deixar imagens divertidas na memória!
Funcionou! Boas recordações ao
final do dia e isso é que interessa. Bem, pelo menos boas recordações até à
hora do jantar, porque não sei o que raio estaríamos a dizer por esta altura,
mas a cara de assustados faz-me pensar que coisa boa não era!