quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Learning the hard way



11 de Janeiro



A decisão no dia anterior tinha sido a de fazer um passeio que pudéssemos testar botas, roupa a vestir em cada circunstância e entrar aos poucos no ritmo de caminhar alguns kilometros por caminhos no parque. Para isso, o primeiro caminho a fazer seria um caminho suave de poucos kilometros e com um percurso bastante suave, com um prémio garantido, ver ao longe um glaciar e ver de perto uns quantos icebergs provenientes desse mesmo glaciar.



Outra das razões para a escolha era a de termos um dia tranquilo para ajudar adaptar e recuperar de algum cansaço que os dias de viagem anteriores nos tinham deixado. Assim, lá começámos o que seria a rotina habitual por estes dias:

      Sair da tenda, pôr água a aquecer para cafés, chás e leites com chocolate.

      Colocar toda a maquilhagem tão necessária para estes dias (ou seja: ir à casa de banho, lavar a cara e os dentes, e tentar largar todos os kilinhos extra antes de deixar o parque de campismo).

      Encher bem o depósito com um bom pequeno almoço (vá, não tínhamos um buffet de um hotel de 5 estrelas, mas tínhamos pão, doce, queijo, marmelada e fruta!).

      Aquecer mais água enquanto se come o pequeno almoço (porque não se sai sem ter um termos carregadinho com água quente!).

      Agarrar nas mochilas e fazermo-nos ao caminho.




Com sorrisos na cara lá fomos nós à nossa primeira caminhada. Início do caminho, uma maquete do lugar e passados uns metros, a primeira ponte suspensa. Cada vez mais interessante este caminho, até porque mais uns metros e...pelo meio das ramas os primeiros blocos de gelo já se deixam ver!

Atravessámos um caminho de cascalho com água de ambos os lados (que mais parece um túnel de vento desenhado pelos melhores engenheiros Alemães!) e damos a volta por uma pequena península  com um mirador na ponta, perfeito para ver ao longe o glaciar Grey.





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Esta voltinha serviu-nos a todos para perceber um pouco como o clima e os próprios percursos influenciavam a indumentária que vestíamos. No espaço de 2km passámos de estar com casacos e gorros pelo frio inicial a estar encolhidos a lutar contra um vento cortante e os salpicos de água que trazia a tirar camisolas e ficar quase de manga curta.

Por mais estranho que pudesse parecer, era verdade (e confirmamo-lo mais tarde noutros caminhos), facilmente teríamos 3 ou 4 estações num só dia e o único remédio era estar preparados para o que cada dia nos reservasse.

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Um percurso fácil e gratificante pelas vistas que possibilitava. Realmente tinha sido uma boa escolha para começar o dia. Mas não podíamos dar o dia por terminado! Era cedo e ali na zona ainda havia um caminho que nos estava a intrigar. Um caminho curto (se bem me lembro não superava 1km de extensão) mas estava marcado como de dificuldade média e conduzia a um mirador que dava vista sobre uma boa parte do parque.

Como a moral estava elevada, havia que aproveitar, ainda por cima os objectivos do dia eram claros, recuperar mas testar. 

Não foram precisos mais de 15min no caminho para perceber porque havia um mirador no final daquele caminho, nem porque era um caminho de dificuldade média. O caminho estava cuidado, não havia grandes obstáculos nem dificuldades no percurso, mas a linha que traçava era simples: subir a encosta. Subir a serio: 700M de pura subida.

Como não há heróis (ou melhor: há, mas criados pelo nosso imaginário) num dos patamares intermédios decidimos dividir-nos, um grupo seguiu e o outro voltou para trás. Volto a referir, um dos objectivos do dia era testar, não era rebentar! E para teste, aquela parte do caminho somada ao caminho anterior, tinham servido perfeitamente.

O resto do caminho não tinha nada que enganar, era “só” subir! E posso-vos dizer que a vista compensava o esforço.

Talvez não acreditem, mas a verdade é que as fotos não foram retocadas para que se vejam cores surreais. A verdade é que se vêem mesmo os diferentes lagos e rios, cada um com a sua cor ou a sua tonalidade. Não é obra do photoshop ou de algum filtro marado posto na lente.

Descemos e juntámo-nos ao resto da comitiva.



Sobrava-nos uma boa parte da tarde mas mais importante, havia que desmistificar a dificuldade do caminho. Sim, era duro, mas não era impossível. Sim, era possível e provável que viéssemos a fazer algum caminho que fosse “deste estilo” mas havia que pensar que quando o começámos já não estávamos frescos, que já tínhamos caminhado, que tínhamos as mochilas mais carregadas do que precisávamos e que não há que ter pressa, há que entrar no ritmo e que o ritmo de cada um é diferente. Sem nunca esquecer que afinal de contas, se o caminho estava marcado com determinada dificuldade, por alguma razão era!



Mas como vos dizia, ainda tínhamos uma boa parte da tarde nas nossas mãos e a última coisa que queríamos era que as tropas ficassem desmoralizadas. Alerta e conscientes sim, assustadas não!

Por isso rumámos a outra zona, para visitar uma queda de água, uma zona muito ventosa e agreste, mas de fácil acesso e que só podia deixar imagens divertidas na memória!



Funcionou! Boas recordações ao final do dia e isso é que interessa. Bem, pelo menos boas recordações até à hora do jantar, porque não sei o que raio estaríamos a dizer por esta altura, mas a cara de assustados faz-me pensar que coisa boa não era!

Saludos y Besos

domingo, 4 de agosto de 2013

De malas aviadas



9 e 10 de Janeiro



O tempo não era muito, havia que ser eficazes, não tínhamos outra solução. Portanto, seguindo as plaquinhas amarelas, escutando os anúncios sonoros iguais em todo o lado e cumprindo com todas as normas de tempo e segurança da “era moderna”, lá fomos nós de avião até ao nosso destino. Com direito a escala de umas horas em Santiago do Chile, só para confundir um bocadinho mais a alma, que já começara a viajar para o sul antes deste desvio para oeste.




Quem chega a estas terras não chega por acaso. E é um mistério interessante, um jogo mental engraçado, tentar pensar o que leva cada uma das pessoas com que nos cruzamos a ter decidido viver por estas latitudes.

Nós não tínhamos intenções de ficar por cá a viver, mas tal como os que cá vivem, também não chegámos por acaso. Chegámos despertos pelas histórias, pelos relatos e comentários dos que em algum momento chegaram a este cantinho esquecido. Chegámos curiosos por conhecer as pessoas, por ver as paisagens e percebemos mais tarde...chegámos curiosos de sentir este lugar.



Punta Arenas foi o ponto de chegada e por sua vez, o ponto de partida para os 300km de estrada até ao Parque Nacional Torres del Paine. Depois obviamente de uma noite bem dormida num pequeno hostel e de uma paragem estratégica para abastecer de mantimentos para os próximos dias.



A distância que em Portugal levaria 2h30 a fazer, suponho que nos tenha levado por volta de 4h, mas na verdade nem tenho muito bem a certeza, ninguém estava agarrado ao relógio para me poder responder. Fomos ao ritmo que escolhemos para a viagem. Fomos ao ritmo que o caminho nos levava.



A estrada de Punta Arenas a Puerto Natales é de alcatrão e serviu para nos começarmos a aperceber  quão inóspita é toda esta zona. Kilometros de nada, de suaves curvas, de subidas e descidas ligeiras, de paragens de autocarro demonstrativas do clima da zona, árvores curvadas pelo vento umas ao lado das outras, todas elas “deitadas” para o mesmo lado.

Passámos por Puerto Natales mas não parámos (em princípio ficaríamos por lá um dia ou dois ao voltar do parque), seguimos directos para armar acampamento e poder no dia seguinte acordar já dentro do parque. Mas para que isso acontecesse ainda tínhamos de fazer os últimos 90km de terra batida, entrar no parque, armar tendas e jantar, para finalmente poder testar os sacos cama.

Já seguindo terra batida fora, com a linda paisagem da costa recortada de Puerto Natales atrás de nós, fomos aproximando-nos de mansinho até que...ao longe, se começaram a deixar ver os Cuernos del Paine. Inconfundíveis, mesmo à distância e sendo vistos ao vivo pela primeira vez.



Por fim, depois de várias exclamações, depois de receber mapas e recomendações, depois de várias fotos e olhares...era verdade!






Fomos até ao primeiro parque de campismo onde queríamos ficar e lá nos instalámos, perplexos pela qualidade do parque. Balneários impecáveis, zonas de acampamento marcadas, separadas umas das outras naturalmente por árvores ou outros elementos, cada zona de acampamento com uma estrutura estilo “paragem de autocarro” fechada de 2 ou 3 lados, para proteger da chuva e do vento e uma mesa de madeira com bancos corridos de cada lado. Basicamente, estávamos num parque de campismo numa zona tão remota como esta mas que estava melhor equipado e mais bem cuidado que a grande maioria dos parques que já visitei.

Tendas montadas, bem agasalhados, com uma sopinha quentinha nas mãos e o resto de frango assado do almoço a pedir para ser comido, lá nos sentámos à mesa a conversar com a desculpa de ter que decidir que rumo seguir no dia seguinte.



Saludos y besos

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Más allá del sur





Esta cronica vem com muitos meses de atraso, mas por vezes as coisas levam o seu tempo a ser digeridas para depois poderem ser partilhadas da melhor forma.





Em Janeiro deste ano tivemos visitas.


Três viajantes especiais. Todos eles a pisar este continente pela primeira vez e nenhum bem ciente daquilo em que se tinha metido. Ou melhor, nenhum bem ciente daquilo em que nós os íamos meter!
 
Intrépidos aventureiros e leais amigos ao confiar nas nosas descrições, explicações e conselhos para embarcar em algo tão diferente do que estavam habituados.






Demos tempo ao tempo. 
Deixámos que se integrassem nos primeiros dias, que recuperassem da viagem, que matassem saudades da filhota e irmã. Tiveram direito a ir à praia, a conhecer alguns dos nossos amigos e até experimentaram escalar numa zona de escalada que tínhamos ajudado a instalar uns meses antes.

Tudo para garantir a máxima tranquilidade antes de migrar para sul.

 



Saludos y besos